sábado, 14 de julho de 2012
Travecos: como é o começo, meio e fim de carreira.
Outro dia conheci um travesti bem novinho. Achei que já tinha me acostumado e já sabia diferenciar, mas dessa vez fiquei um tempo pra descobrir que era um homem. Homem não, menino. Era bonito, cabelo liso, comprido, olho puxado, bem maquiado. Bem deslumbrado com essa vida também. Um típico travesti no início da "carreira". Corajoso, aparentemente não tinha medo de nada, estava indo fazer o exame pra saber se tinha aids, mas disse que se desse positivo, ele não ia nem ligar, já entrou nessa vida sabendo dos riscos. Transou com o namorado sem camisinha pq queria provar que o amava. Assim, bem adolescente idiota mesmo. Depois descobriu que o namorado transava com vários outros travestis, e resolveu fazer o exame. Cheio de sonhos (por mais esquisitos que possam parecer, são sonhos), vai colocar silicone, arrancar o pênis, que segundo ele, não serve pra nada... vai deixar pra estudar quando tiver mais velho, quer aproveitar a juventude agora, já que é bonito e ganha mais de mil reais só em 3 horas de programa.
Me mostrou a identidade dele. "será que vão aceitar no hospital? eu ainda não renovei!" Na foto, um menino magrinho, de uns 10 anos, na assinatura uma letrinha de criança. Marcos era o nome dele, agora é Rebeca...
Cara, o q falar pra ele? A gente fala dos riscos, das pessoas que entraram nessa vida e se arrependeram, da droga que faz mal, do Deus que ama... mas por mais que a gente fale, parece que nada adianta. Principalmente nessa fase em que a pessoa tá no auge, deslumbrada, bonita, ganhando bem.
Bem diferente do outro que fomos visitar depois desse, lá na favela. Já velho, fedendo, estava de vestido e vinha com uma sacola na mão. Foi comprar material pra costurar, pra ver se consegue sobreviver. Programa já não dá mais pra fazer. Parou do lado dele uma menina que parecia um menino. Ele falou "essa daí rouba tudo pra mim, tudo q eu pedir ela rouba. Quebra vidro de carro, pega carteira, rouba tudo!"
Eu fico andando na rua, vejo tanta gente se prostituindo, tanta coisa que parece não ter solução!
Até mesmo aqui em casa, travesti que já deixou essa vida há 1 ano, conversando comigo sobre as lutas que ele enfrenta. Mesmo sabendo que é errado, ele sente vontade de transar com homem, mas sabe que não pode, então luta pra não pensar. Mas aí ele sonha que tá transando com homem, e aí se sente culpado por ter sonhado! Aí um dia ele foi no mercado e parou um cara do lado dele, querendo fazer um programa, e ele teve vontade de ir, mas não foi. Maldita hora que foi colocar silicone, agora td mundo olha pra ele na rua, mesmo ele estando vestido de homem! Agora quer tirar e não tem dinheiro! E como trabalhar pra ter dinheiro? ninguém dá emprego pra travesti e é por essas e outras que eles se prostituem. E ele não quer mais essa vida!
Ele agora é crente, mas tem medo de, de tanto dizer não, um dia quando ficar velho ele acabe nao aguentando e abusando de algum menino, igual fizeram com ele!
E pra ele, o q falar? Bom, as mesmas lutas que ele tem, eu também tenho, qualquer pessoa tem. Não exatamente as mesmas, a dele parece mais grave pq o interesse dele é por pessoas do mesmo sexo né? Pode até parecer, mas td mundo enfrenta alguma dificuldade, luta contra alguma coisa , mas encontramos um Deus que nos ama independente de qualquer coisa, e é isso que nos une. Um Deus que luta junto, essa luta que eu e ele vamos carregar pro resto da vida.
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